Vendo 2010 - 3.700 Km

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sábado, 19 de junho de 2010

Dirigir: aptidão polêmica.

Do modo como é feita, formação deixa alguém apto a guiar?

No Brasil, as estatísticas do Denatran, de 2003 a 2007, indicam que o total de condutores habilitados cresceu mais de 11 milhões (35%), atingindo quase 42,7 milhões de habilitados. Em termos de faixa etária, das 11 milhões de novas habilitações, 10,3 milhões foram para pessoas com 26 anos ou mais, e 800 mil estão na faixa de 18 a 25 anos.

Este aumento do número de condutores pode ter sido um dos motivos que levou o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) a editar, em 2008, a Resolução 285, obrigando o candidato à habilitação a “realizar a prática de direção veicular, mesmo em condições climáticas adversas, tais como chuva, frio, nevoeiro, noite, dentre outras, que constam do conteúdo programático do curso”.

Agora repare na recém-publicada Lei 12.217/10, que diz respeito à formação de condutores no País: “Parte da aprendizagem será obrigatoriamente realizada durante a noite, cabendo ao Contran fixar-lhe a carga horária mínima correspondente.” Esta inovação amplia os requisitos para a formação do condutor.

Interessante observar que alguns aprendizes já buscavam as aulas à noite em razão deste período possibilitar aulas compatíveis com os horários de trabalho ou estudos dos candidatos a condutores.

À noite ocorrem 20% das viagens viárias e 50% dos acidentes graves, daí a preocupação das autoridades em obrigar o aprendizado prático de condução em período noturno. Muito se tem debatido a respeito da formação do condutor e se é suficiente para ensiná-lo a dirigir. Em 2007, a Resolução 265 regulamentou a formação teórico-técnica do processo de habilitação como atividade extracurricular no ensino médio e definiu os procedimentos para implementação nas escolas interessadas.

No entanto, após estas significativas mudanças provocadas pelas Resoluções 265 e 285, ainda não se teve notícia de que as alterações feitas tenham proporcionado uma melhora na forma de dirigir, seja no âmbito da prevenção de acidentes, na mudança de hábito dos condutores em prol da segurança, ou algum outro resultado positivo relativo à formação de motoristas.

Sem aula?

A maioria dos cursos de formação ou graduação, inclusive universitários, oferece ao aluno carga horária de aulas teóricas muito maiores do que a carga de aulas práticas, geralmente praticadas em estágios remunerados.

Seguindo a esteira “escolar”, qualquer estudante do ensino médio ou universitário pode comprovar essa afirmação. Também poderá ser comprovado que o empenho pessoal do aluno em sua formação será preponderante em seu desempenho escolar e profissional.

A conclusão do curso autoriza formalmente o aluno a praticar seu oficio ou profissão. Entretanto sabemos que o desenvolvimento e aperfeiçoamento virão com a experiência adquirida ao longo do tempo e da prática.

O mesmo raciocínio poderia ser usado em relação aos Centros de Formação de Condutores e seus alunos. Após “formados”, estes condutores passam pelo estágio probatório de um ano até conseguirem a permissão definitiva.

A propósito do tema “formação de condutores”, o CESVI BRASIL realizou uma pesquisa com os demais membros do RCAR (conselho que reúne representantes de 20 países e 26 centros de pesquisa ligados à segurança viária e veicular), comparando os requisitos para a formação do condutor. Esta comparação indicou que a maioria dos países dos quais colhemos as informações do processo de habilitação dispensa a frequência obrigatória em cursos de “autoescolas”, possibilitando o aprendizado teórico em cursos a distância e o aprendizado da prática de direção com a supervisão dos pais.

Tudo indica que não há processos ideais para a formação de condutores. Cada país adota uma forma peculiar geralmente associada à cultura e, principalmente, à noção de cidadania. A aplicação de penalidades aos infratores segue a mesma linha.

A título de exemplo, ressalta-se que pesquisa norte-americana realizada com base em relatórios de acidentes de pilotos de corridas nos EUA mostrou que esses motoristas eram consideravelmente mais envolvidos em colisões do que os motoristas em geral, equiparados por idade e sexo. Isto se refere, naturalmente, aos acidentes de pilotos habilitados enquanto dirigiam em vias públicas e não nos percursos de corridas.

A formação e a habilidade destes pilotos para dirigir são incontestáveis. Entretanto, eles se envolvem em mais acidentes em vias públicas, em princípio, pois parecem assumir maiores riscos durante a condução do veículo do que os motoristas convencionais.

Como deveria ser

A formação dos condutores nos CFCs é o ponto de partida para esta mudança de comportamento, contudo é importante ressaltar que o aprendizado na forma de conduzir não se encerra quando o motorista deixa a “autoescola” com a sua habilitação, mas permanecerá durante todo o tempo em que estiver autorizado a dirigir.

A formação de condutores deve abordar temas que despertem nas pessoas noções de segurança viária (respeito ao pedestre e aos mais vulneráveis no trânsito, transporte de crianças nos veículos) e de segurança veicular (física elementar, deformações na carroceria pela dissipação das energias em impactos, ergonomia para oferecer maior eficiência ao cinto e ao airbag).

Também, saber reconhecer e identificar as “áreas cegas” ao redor dos veículos, principalmente os de grande porte, é imprescindível à prevenção de colisões laterais.

O conhecimento destes conceitos elementares pode oferecer ao condutor informações que reduzam as chances dele se expor a riscos desnecessários, pois o motorista saberá, ainda que superficialmente, a relação entre velocidade e energia.

O CESVI BRASIL, pela sua própria essência de centro de pesquisa em segurança viária, dá apoio às ações que tenham por finalidade tornar o trânsito mais seguro, principalmente quando o ponto de partida desta transformação é a educação.

Educação é, sem duvida, a pedra fundamental à disseminação de informações que acreditamos relevantes ao conhecimento das pessoas, principalmente se absorvidas e desenvolvidas com vista à concretização de hábitos seguros no trânsito.

Feneauto defende rigor nos exames

“A Feneauto defende que as aulas sejam presenciais, porque o treinamento a distância ainda é algo que não se consolidou no Brasil. Hoje, a exigência é de que o aluno passe por 45 horas/aula. Se a situação dos exames feitos aqui fosse diferente, até poderíamos acabar com a carga horária exigida. Mas não dá para fazer isso enquanto houver tanta fraude no exame, tanta corrupção que permite que o candidato pague e passe. As provas precisam ter o rigor e a credibilidade dos exames da OAB e da USP. Aí, sim, poderia haver maior flexibilidade no tipo de aula aplicada.”

Magnelson Carlos de Souza, presidente da Feneauto (Federação Nacional das Autoescolas e Centros de Formação de Condutores).


CESVI vê oportunidade de aprimoramento

O CESVI pesquisou como outros países pensam a formação de condutores, apontando a existência dos que permitem o ensino a distância. Entretanto, o CESVI entende que não há estudos que apontem a maior ou menor eficiência de desobrigar as aulas presenciais. O centro acredita que a formação precisa receber grande atenção das autoridades de trânsito, assim como o exame que atesta a capacidade do novo motorista, porque a displicência na educação começa no momento em que um candidato despreparado recebe sua habilitação. A intenção do centro é sempre repensar e contribuir para o aprimoramento deste processo.

Tão longe, tão perto

Países* que permitem que a formação seja feita a distância:
• Austrália
• Canadá
• Espanha
• Estados Unidos
• França
• Itália
• Japão
• México
• Reino Unido
• Suécia
Fonte: RCAR
* Entre os países com centros membros do RCAR

Caráter provisório

Tempo de experiência antes da habilitação definitiva:
• Alemanha – 2 anos
• Austrália – 1 ano
• Canadá – 2 e 3 anos, dependendo do Estado
• Coreia do Sul – 1 ano
• Espanha – 1 ano
• França – 3 anos
• Itália – 3 anos
• Suécia – 2 anos
• Brasil – 1 ano
Fonte: RCAR
* Entre os países com centros membros do RCAR

Adolescentes ao volante

Confira os paí ses* que permitem habilitação ou aprendizado antes da pessoa completar 18 anos:

• Austrália
• Canadá
• Estados Unidos
• Reino Unido
• Suécia
Fonte: RCAR
* Entre os países com centros membros do RCAR

Aprendendo à noite

Países* que exigem aulas noturnas na formação de condutores:
• Alemanha – 18% da carga horária.
• Austrália – 17% da carga horária.
• Japão – carga fica a critério do instrutor.
• Brasil – 20% da carga horária.
Fonte: RCAR
* Entre os países com centros membros do RCAR

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