
Gianni Coda, presidente mundial do Fiat Group Purchasing, responsável pelas compras do grupo italiano, esteve em São Paulo especialmente para a entrega do Qualitas Award, prêmio destinado aos melhores fornecedores do Brasil e Argentina.
Ainda com um bom português, que aprendeu em anos de trabalho no Brasil, ele recebeu Automotive Business para explicar as estratégias do Fiat Group no relacionamento com os parceiros da cadeia de suprimentos.
Em 2010 ele comanda uma estrutura que reúne 2.800 pessoas (mais 400 da Chrysler), das quais 130 estão baseadas em Shangai, na China, e deve investir US$ 65 bilhões na aquisição de materiais e serviços para aplicação nos veículos das marcas italiana e norte-americana.
A Fiat comprará US$ 40 bilhões deste total. No Brasil, sob o comando de Osias Galantine, o Grupo Fiat Purchasing América Latina vai investir R$ 14 milhões, dos quais 95% serão utilizados nas linhas de produção locais.
Para 2014 a projeção sobe: o volume global de Fiat e Chrysler deve atingir US$ 100 bilhões, cabendo ao Brasil 8% desse total (hoje são cerca de 7%).
Fornecedores
Coda explicou que sua intenção é ter três ou quatro fornecedores para cada componente necessário à montagem dos veículos. “Como regra geral, serão empresas de atuação global, capazes de atender os polos de produção na Europa, Estados Unidos e América Latina” – explicou.
A equipe global de compras da Fiat e Chrysler se reúne toda quinta-feira, às 15 horas de Turim, para tomar decisões sobre aquisições e políticas de suprimento. Muitos dos profissionais envolvidos, claro, têm presença virtual por videoconferência.
Aço
Coda garante que o Brasil tem o aço mais caro do mundo e os preços locais já superam os praticados antes da crise internacional de 2008. Ele admite que o Grupo Fiat vai importar 15% a 20% do aço que utiliza (Thomas Schmall, da Volks, disse que compra no exterior 10% do total usado para seus veículos e deve chegar a 30%).
Ele profetiza que, em setembro ou outubro os preços do minério de ferro vão entrar em baixa. “Já há sinais disso. Um exemplo vem do custo da sucata na Europa, que já está diminuindo” – diz.
Galantine explica que o aço oriundo da Ásia chega à porta da Fiat 15% mais barato que o adquirido da vizinha Usiminas e outras fontes, com todos os custos logísticos incluídos. Então por que a montadora não importa mais? Para ele, a resposta está na necessidade de não depender excessivamente de fontes Exterior, sujeitas a mudanças cambiais, questões logísticas e efeitos da demanda global.
Coda disse que a Fiat precisa de uma tonelada de aço, em média, para fazer um carro. Os engenheiros trabalham para diminuir a massa do metal, com ganhos técnicos no projeto dos componentes. “Temos conseguido 0,5% de redução por ano nos últimos dois ou três anos” – enfatizou.
O executivo ressaltou que há três centenas de profissionais das áreas técnicas, de compras e qualidade, na Europa e América Latina, empenhadas em tarefas para redução de custos.
Na Europa ele deu sorte: no ano passado negociou acordos de fornecimento com preço fixo para 2010, antes da disparada nos preços. O benefício, no entanto, não se estende ao suprimento para filiais da Fiat em outros países.
Na Europa a matéria-prima responde por 20% do custo de veículos compactos, com valor de € 6 mil a € 10 mil. “No Brasil a relação sobe para 40%” – assegura Galantine, demonstrando preocupação com a excessiva dependência da Fiat Automóveis às oscilações na cotação de commodities como carvão, minério de ferro e petroquímicos.
Investimentos
Coda esclareceu que os ferramentais utilizados na produção de componentes para os veículos são de propriedade da montadora, embora sejam adquiridos por meio do prestador de serviços. A Fiat é, também, detentora da propriedade intelectual do projeto das peças e fica responsável, afinal, para abastecer todo o mercado com componentes de reposição por meio das revendas. Na prática não é exatamente o que acontece – e ele concorda com isso.
“O ferramental oriundo da Ásia chega a ser 30% mais barato do que o adquirido na Europa” – disse o CEO da FGP, esclarecendo que o mesmo vale para o Brasil. É o caso por exemplo de moldes para injeção de peças plásticas.
Como mudar essa situação de preços locais muito mais elevados do que os encontrados na Ásia para matérias-primas, componentes e ferramental? A receita, segundo Coda, é dar início ao choque de competitividade proposto por Cledorvino Belini, que é presidente da Anfavea e também do Grupo Fiat na América Latina.
Qualitas 2011
Com a globalização crescente da estrutura de compras do Fiat Group, junto com a Chrysler, Coda admite que a premiação do Qualitas em 2011 pode consolidar os eventos regionais em um único. “Estamos ainda imaginando como seria” – disse.
Este ano, a principal premiação do evento, o “Qualitas 5 Estrelas”, concedido às empresas que mais se destacaram nos últimos cinco anos consecutivos, teve dois vencedores: a NGK, fabricante de cabos e velas de ignição, que conquistou o prêmio máximo pelo quarto ano seguido, e a Petronas, fornecedora de óleos e lubrificantes.
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